eu realmente quis viver a historia que criei. nao era impossivel, o castelo ja estava lá e o principe so precisava aproximar-se.
vou contar com detalhes pra vocês entenderem ..
eu havia construido um castelo com muito custo e demora. era firme e de pedras na beira de um lago límpido. cada dia que eu conseguia erguer uma parede, era como se levassem todo o meu amor nela. eu dormia cansada, e o amor reabastecia-se aqui dentro de mim. no outro dia, completamente sem malicias, eu deixava mais amor nas outras paredes que erguia. era um tanto quanto cansativo perder aquela essencia, mas eu sabia que voltaria na noite fria.
e assim passaram-se anos. construi inumeras e incontaveis paredes. perdi varias vezes o amor, mas ele vinha mais forte depois de cada perda diaria. sem contar nos alicerces que eram pureza, sinceridade, companheirismo, carinho, força e medo. e assim foi feito. alicerces fortes e inabalaveis, paredes resistentes e janelas aureas cheias de paz e aconchego.
portas sem dificeis trancas, escadas com degrais que nao cansavam e labirintos abertos. tudo tão imensamente maravilhoso, ingênuo e paciente! eu nao me lembro do cansaço quando terminei a ponta do ultimo andar.. sabia que ali eu estava surpreendentemente cada vez mais forte, isso me deixava disposta a qualquer outra sensação.

era perfeito. acolhedor e confortavel. nao tinha luxos e nem regalias, mas tinha verdade la dentro. eu tinha o feito, e cada dia que passava me fazia ter mais certeza de que eu devia esperar. foi sim, confesso, muito dificil ter juntado tanto sentimento em apenas uma construção. nada magnifico, mas verdadeiramente perfeito pra mim que o construi. qualquer um que entrasse ali sairia de alma lavada, ou pelo menos, limpa. entraria cansado e sairia animado. entraria indisposto e sairia perfeitamente em forma. entraria triste e sairia feliz. entraria chateado e sairia contente. entraria sem amor, e sairia o mesmo! a nao ser que eu lhe oferecesse o tesouro.
nao contei a parte do tesouro. certo! antes de toda a base, antes de todo o alicerce, eu escondi no mais profundo que pude, uma caixinha de madeira esverdeada com tranca dourada. bem tipica. tranquei-a com todo o amor que eu havia juntado desde que tive consciencia que ele existia. já era uma especie rara no mundo atual e eu nao podia bobear. vale muito e pessoas que tem, mesmo que em pequenas quantias, nao sabem usa-lo. eu tambem nao sabia. entao guardei. e foi dificil fexar aquela caixa boloada, havia muita coisa ali dentro. eu havia juntado uma vida inteira.
era a maior riqueza que eu tinha. EU tinha. isso me fazia pensar em posse, e eu gosto de sempre poder ter. escondi entao, no mais absoluto silencio. o lago recebeu a chave que eu joguei de olhos fechados. estava ali o que uma so pessoa poderia tirar conscientemente de mim. eu nao queria oferecer a qualquer um, nem a um que so me encatasse. eu nao era a princesa, mas quando eu me sentisse uma, eu o desenterraria e entregaria pra quem me proprocionou tal coisa.
aparentemente cansada fui me renovando sentada em frente ao castelo, esperando por cada um que passasse ali. muitas vezes me senti ameaçada.. o que foi bom e me fez acumular medo, com o medo veio a coragem! muitos me fizeram tremer um pouquinho, e alguns deles me fizeram hesitar, mas nenhum fazia com que meu coração desparasse rapida e constantemente. nenhum deles fazia a minha perna tremer feito bambu verde ao vento impetuoso, nenhum deles me fazia embrulhar o estomago sem ter ao menos comido. nenhum deles me fazia pensar na hipotese de desenterrar o tesouro.
até que um dia, chegou em um cavalo branco, kk', brincadeirinha.
um dia, sem me importar, e até feliz com isso, passou uma pessoa pela qual eu quis torna-la despercebida. eu lembrei do tesouro, e ri comigo mesma de ter pensado em amor a alguem que eu nunca tinha imaginado. e despercebido passou por mim. assim eu acreditei!
pensei depois que ele era do reino vizinho. um reino luxuoso e grande, e que queria acabar com meu "humilde" castelo, pois mesmo que aparentemente involuntario, ele nao parava de passar nas redondezas da minha propriedade. achei aquilo estranho, e cada vez mais me sentia a ponto de desenterrar algo que era especial demais pra ser tao rapido retirado de onde escondi.
um tempo depois, eu nao tinha mais duvidas. corri sozinha, e sem que ele soubesse, fui ao meu esconderijo e desenterrei a caixa. pro meu alivio ela ainda estava la. alivio sim, pois eu havia pensado na hipotese de tal moço ter roubado ela de mim. abracei-a como se fosse uma pessoa. levei-a pro topo do meu castelo e a deixei la. ate pensei em jogar no lago, tornando-me fria pro resto dos meus dias e assim, nao iria temer ou tremer quando visse tal garoto!
acontece que depois que eu desenterrei aquilo eu procurei a chave. sim, eu fui ao lago, que ja era pateticamente ridiculo e procurei-a. nem precisei de muito tempo. destranquei e chamei o moço pra visitar meu castelo. eu queria que ele entrasse la sem amor, e nao saisse o mesmo! ele entrou receoso, mas depois cedeu. demorou um pouco até ele me falar de assuntos pessoais e restritos, mas ficamos um dia todo sabendo mais um do outro. nos divertiomos em meio ao constrangimento e foi maravilhoso. nesse dia, em meio a uma previa despedida, ele tirou algo de seu bolso e me entregou. nao acreditei quando eu quis tocar aquilo e ele impediu-me colocando-o em minha caceça. brilhava muito, mas muito mais por dentro que por fora. e me abraçando, ele já saia, deixando-me com a coroa mais linda de todas. eu entao, chamei-o quando ja se encontrava em frente o castelo, pedi que esperasse e fui correndo buscar a caixa esverdeada. entreguei a ele, que aparentemente conscentiu. entao, sem falarmos mais nada, ele se foi.
deitei imensamente feliz aquela noite e tive a certeza de que agi com sensatez. fiquei felizmente esperando-o em frente ao castelo por dias debaixo de uma arvore. ele nao voltou. nao quis acreditar que afinal eu nao estava certa e que insanamente eu enganava-me. passaram-se dias, e eu, sem condiçoes mais de pensar em possibilidade alguma, desisti.

nao demorou muito depois dessa decisao, e ele reapareceu. eu nunca tinha ficado tao feliz em toda a minha vida. até ver, que havia trazido consigo o tesouro que eu havia entregado. nao entendi nada, e antes que pudesse perguntar, entregou-me. peguei ja sem forças aquilo, e mais confusa ainda fiquei. ele entao explicou-me que nao podia aceitar, que era muita coisa e era muito pesado pra que ele carregasse. eu aleguei que poderia carregar com ele, e que eu o levaria a vida toda se fosse preciso. ele disse novamente que realmente nao poderia aceitar, que mesmo que ficasse leve a medida que passasse o tempo, ele nao saberia jamais carregar, nao da maneira correta, e pediu-me que eu entedesse, e que se eu quisesse, ate me ajudaria a subir com todo aquele peso pro topo do meu castelo.
eu nao consegui falar nada. e nessa hora, eu realmente nao consegui imaginar nada. nenhuma situação de escape pra que pudessemos juntos conviver com aquilo. nenhuma solução rapida pra que ele visse que essa caixa o pertencia. exatamente nada, nada me trouxe a realidade aquela hora. ele me pediu desculpas, nao sei se pela sinceridade, ou por nao conseguir carregar o fardo.
eu nao consegui responde-lo. eu nao consegui responder-me. eu nao consegui nada aquele instante. e talvez ele tivesse mesmo razão e o fardo fosse mesmo pesado demais pra ele. talvez nada daquilo podia fazer sentido e ele deveria mesmo ter retirado a coroa de mim. mas ele nao o fez. talvez eu mesma devesse ter tirado, mas nem eu o fiz. e talvez eu até nao deveria ter construido aquele castelo, nao com toda a materia prima que eu utilizei. pode ser que eu deva agora mesmo arrancar a coroa que insignificantemente ainda esta aqui comigo, mas eu ainda nao vou fazer. nao por nao ter forças, ou por nao saber tirar. mas porque eu senti verdade na hora que ela foi colocada, e porque eu quero sentir verdade e confiança na hora de irrevogavel e decisivamente retirar!
- cuidem bem do seu tesouro, e espere um pouco antes de aceitar a coroa! ♥
- entenda isso como uma metáfora por favor.